Em quantos trapos se desfaz um homem
Quando toca-lhe a mão do tempo aos ombros?
Em vários panos miúdos e amarelos,
Com cheiro azedo de lembranças velhas.

De quanta dor é feito um coração
Que se quebra e sarar não pode nunca?
É a solidão, que engendra o amargor,
Que da boca se espalha ao corpo todo.

Atrás de quantas máscaras se esconde
Um homem que detesta a realidade?
Revala-o cada ruga no seu rosto
E todos os suspiros suprimidos.

Em quantas páginas se escreve a história
De quem viveu sem respirar ar puro?
São muitas, uma pilha gigantesca
De folhas brancas sem nenhum rabisco.