Eu pertenço ao vermelho do poente,
Pois os dedos de rosa são-me alheios.
A vida eu só vivi por acidente;
Para a morte porém eu tenho os meios.

Percebi que o interesse meu é o fim
Quando a morte batia sempre à porta,
Querendo que eu dissesse um dia sim
E em mão tomasse a lâmina que corta.

Um dia sem querer eu aceitei
E agora eternamente eu sou da noite;
A luz do dia claro abandonei
E as trevas eu percorro com o açoite.

Agora que já sabes quem eu sou
Apresta-te e a oração faz a final;
Pois a hora de partir a ti chegou:
Conhecerás em breve o bem e o mal.