O Cláudio olhou desafiante para a esposa e disse:

— Vou exigir o desconto.

— Cláudio, olha o divórcio!

A Penélope tinha um método favorito da ameaçar o marido: mencionar, de forma mais ou menos figurada, o divórcio.

— Este tipo de malfeitoria não pode seguir impune. Vou exigir o desconto.

Ela revirou os olhos. Este comportamento do marido, esta mania, ainda os levaria ao divórcio. Cada caso isolado não era suficiente, mas o histórico incessante da chatice dele estava esgotando as forças da Penélope. Já tinha conversado com o Cláudio diversas vezes, e ele sempre prometia que seria mais vigilante. Mas ele sempre recaía. E ela estava cansada de esperar.

— Cláudio, para e reflete um pouco. Faz anos — anos! — que procuramos um apartamento ideal. Agora encontramos um perfeito, já praticamente fechamos o negócio. Você vai realmente estragar tudo?

— Olha, Penélope. Eles não têm base nenhuma para escrever “Nautillus” assim, com dois ll. Se eu vou passar o resto da vida com vergonha de onde moro por causa disso, é justo que eles ofereçam um desconto. Ou mudem o nome.

— O nome já está bem grande na fachada. Não vão mudar.

— Tudo bem, o desconto então.

— Cada um escreve nomes próprios do jeito que quiser. Além disso, ninguém se importa se eles escreveram “Nautillus” com dois ll ou “Nautilus” com um l.

Agora o Cláudio ficou ofendido. A esposa acabara de o classificar como ninguém.

— Eu cá muito me importo. E provavelmente até o carteiro vai dar um sorrisinho toda vez que entregar uma correspondência, pensando no grau questionável de alfabetização dos moradores.

— Você ouve o que você diz, Cláudio?

— Penélope, você não está entendendo.

Eu não estou entendendo?

— “Nautilus” vem do grego antigo, onde tinha apenas um l (ou, mais corretamente, um lambda). A palavra foi para o latim com, evidentemente, um l só. Júlio Verne usou o nome para o submarino do capitão Nemo — e sabe como ele escreveu em francês? Com um l só, porque “Nautilus” se escreve com um l e não dois!

A Penélope quase cedeu à maluquice do marido.

— Vem cá, não tinha que ter um agudo ali no a? Não fica um oxítono assim?

— Pessoalmente, considero o agudo opcional, já que o aportuguesamento…

A irritação novamente tomou conta da Penélope.

— Cláudio, para!

Após uma intervenção organizada por amigos e familiares, o Cláudio cedeu e prometeu conter seu comportamente inapropriado. Mas, toda vez que digita seu endereço, ele morde os lábios e escreve “Nautilus” assim, com um l só.