Partindo do princípio corretíssimo
Que diz que a sanidade é convenção,
Não vale a pena então se equilibrar
Nessa pontinha pouca de razão.

Todos que já viveram, tudo aquilo
Que foi ouvido, escrito e então rasgado
Está dentro do píxel azulzinho;
Não vá chorar por algo tão minguado.

Há uma resposta ao paradoxo, aquele
De Fermi, muito simples e eficaz:
A praga da razão surgiu só aqui,
Por isso é que ficamos para trás.

Os tubarões são velhos, muito velhos,
Já abocanhavam antes da primeira
Árvore despontar na terra seca;
Ora, imagine um mundo sem madeira.

A ponte entre o insano e o racional
Foi erguida com as mesmas falsidades
Que bem mais tarde usaram naquela outra
Que liga o amor ao ódio, duas metades.

Os bilhões de piscantes estrelinhas
Que piscam toda noite sem parar
São um recado do universo imenso
Para baixar a guarda e relaxar.

A razão é egoísta porque pensa
Que ninguém além dela tem razão.
Ela é cruel, é ditadora, é má.
À loucura é preciso dar vazão.

No fim das contas a culpada é a Terra
Que permitiu que a praga aqui surgisse,
Crescesse, se multiplicasse ad nauseam,
E por fim acabasse com a louquice.

A sanidade ainda há de eliminar
O pouco que nos resta de animal:
Robôs seremos, sem errar jamais,
E nisso não veremos nenhum mal.