Já no primeiro dia que eu cumpri
O horário interminável de trabalho,
Que come um terço do meu dia inteiro,
Com derrota e aflição eu concluí:
Acaba aqui e agora a minha vida.

O sistema me obriga, ele me oprime.
O sonho de se aposentar é longe:
É uma esperança, é uma ilusão — eu sei.
Porém é o que me resta; de outro modo
Razões não tenho para trabalhar.

As horas passam rápidas em cada
Fim de semana, quando a liberdade
Sopra no ar que eu respiro; mas domingo
De noitinha um véu negro encobre a vista:
Tudo de novo, o ciclo recomeça.

A vida passa rápido demais.
Voam velozes os verões da vida.
E eu vou dando as melhores horas sempre
Dos meus melhores anos ao sistema
Que me mastiga e que há de me cuspir.

Pensar que alguém ousou dizer um dia
Que o tal trabalho dignifica o homem.
Não é claro, contudo, qual é o homem
Dignificado nesse grande esquema:
Se é quem trabalha ou se é quem manda e lucra.