Quilômetro duzentos e quatorze.
Uma cruz encravada junta à estrada,
Meio coberta pelo mato impio.
Abandonada, descuidada, velha.

Quilômetro duzentos e dezoito.
Um cadáver exposto aos elementos
De um cão que por azar não era humano;
As moscas fazem festa na carniça.

Quilômetro duzentos e vinte e um
“Há cento e vinte dias não tivemos
Acidente fatais na rodovia
Ajude a não zerar esta estatística.”

Quilômetro duzentos e vinte e oito.
Rádio: “em Brasília dezenove horas”.
O sinal da estação fica mais fraco.
O chiado a voz do locutor distorce.

Quilômetro duzentos e quarenta.
Ultrapassam à esquerda a cento e oitenta.
Adiante um motoqueiro arrisca a vida
Grudado ao caminhão que vai à frente.

Quilômetro duzentos e cinquenta.
Policia Rodoviária Federal.
Nós reduzimos a velocidade
E respeitosamente nós passamos.

Quilômetro duzentos e sessenta.
Acidente na pista; tudo para.
Ambulâncias no acostamento, um corpo
Estirado no chão. Fragilidade.

Quilômetro duzentos e setenta.
A ponte sobre o rio Itapocu,
Com largura de vinte e quatro metros,
Fica perto de um bar, agora em ruínas

Quilômetro duzentos e noventa.
Na escuridão as tartarugas brilham
E atrapalham o carro que, com pressa,
Faz uma ultrapassagem perigosa.