Paulo é um conservador gramatical. Ele acredita que é dever dos falantes de uma língua impedir que ela mude conforme os anos passam. Mais do que isso, ele crê que as mudanças que a língua naturalmente sofre sempre a tornam pior. Ele quer, portanto, gradativamente levar o português para os estágios anteriores.

— Nosso objetivo final é falar latim!

Paulo não está sozinho. Através das redes sociais, ele encontrou mais de cem indivíduos que compartilham do mesmo interesse. São, em geral, pessoas com formação superior e que não toleram quem diz “é nóis” ou “os cara”.

Na página do grupo no Facebook, os membros exercem duas atividades: escrever em versões mais antigas do português e explicar porque o texto que os outros escreveram está, na verdade, errado.

— Muitos pensam que basta usar “tu” e “vós” e conjugar os verbos corretamente. Enganam-se. É de suma importância, por exemplo, observar atentamente o vocabulário.

Paulo explica que, pelas contas dele, estão chegando agora ao início do século XIX.

— Ontem alguém disse que algo seria “óbvio”; pus-me então a explicar que se trata de um vocábulo mais recente e que deve ser evitado. Torna-se, com efeito, mais e mais frequente a saída de palavras comuns. Logo cairão “atitude”, “garoto”, “comemorar” e também “talvez”. O “quiçá” poderemos usar até o século XIII.

Há quem participe do grupo e ache que o ritmo de arcaização é muito lento.

— Com tal tardança, não chegarei a Camões em vida — afirma um dos participantes. Veio-me aos ouvidos a soada de que querem alcançar o protoindo-europeu. Patranhas!

Paulo rebate a crítica e diz que os exagerados mais prejudicam do que ajudam.

— Um ladino comentou no grupo que “nunca chus volveria”, após lhe terem solicitado moderação. Todos queremos dizer “chus”, mas faz-se necessário esperar o século XIV.

Secretamente, Paulo quer chegar logo é na alta idade média, porque lá existe uma lacuna. Quer pintar e bordar. Depois, só o latim mesmo.