Na boca deste sábio há um grito
Que vibra tão sonoro e tão potente
Que os átomos do cosmos espantados
Se põem em fila indiana obedientes.

Não tarda a réplica dos pares seus.
“Eu li, eu compreendi, mas eu discordo.
Falaste disso, mas daquilo não;
Julgaste errado a obra de fulano.”

E a balbúrdia prossegue há dois mil anos.
Mais e mais a poeira tem volumes
Para cobrir nas bibliotecas velhas.
A refeição das traças não termina.

No grito deste sábio está a esperança
De que a sua voz é mais bonita e pura
Que a dos que o precederam desde sempre,
Que a verdade tão doce ele atingiu.

Tolo! Ele segue cometendo o erro
Que assola a terra desde Adão e Eva:
Assume que a cabeça dos irmãos
Pensa da mesma forma que a sua própria.

O indivíduo é atômico, não pode
Ser generalizado e interpretado
Como se fosse diferente e igual
Ao mesmo tempo; isto não faz sentido.

E ainda que dois consigam se entender,
Nosso número é infindo, nossa vida
É breve; as gerações, porém, são muitas.
A empresa toda não tem chance alguma.

Ouvi, portanto, o meu conselho válido:
A chave para a mútua compreensão
É o transportar-se para o corpo alheio
E o aventurar-se em terras estrangeiras.