O Tempo (21)
De olho na folha
Passava seus dias;
O branco apagava —
Com letras enchia.
Cadernos, volumes
Cercavam-no inteiro;
Eis dele o jardim,
Eis dele o canteiro.
Ninguém espiava
As linhas repletas
De tortos garranchos,
De odes completas.
Sabia bem ele:
Não eram pra ler
Aquelas montanhas;
Mas sim pra escrever.
Assim registrava
Os dias passados,
Os tempos já idos,
Os anos cercados.
E certificava
Que cada minuto
Contava na vida —
Propósito astuto.
Pra si, não pros outros:
Depois que morresse
Que o lápis caísse,
Que tudo queimasse.