Um ser diferente
Nasceu na fazenda.
De rabo comprido,
Feição mui horrenda.

Ninguém entendeu
De onde surgiu;
Se bicho do mato
Ou a égua pariu.

O bicho é tão feio,
Tão suja sua cara,
Que ao vê-lo por perto
O gado dispara.

O cheiro é ruim,
Azedo e potente,
Que alguém resfriado
De longe já o sente.

Disseram: “É filhote
Do tal chupa-cabra;
Depois que crescer
É que ele se endiabra.”

Disseram: “Vai ver
Não é nem da Terra;
Pois olhe só o jeito
Que ele anda e que berra.”

Disseram: “Coitado!
Tão feio que deve
Sofrer só de ser.
Que o diabo o carregue!”

Um dia sumiu,
Mas não sem deixar
Lembrança às pessoas
Daquele lugar:

Ali pois agora,
Em casa, na rua,
No pasto ou potreiro,
Com sol ou com lua,

Se sente do bicho,
Não importa onde for,
O sempre distinto
E azedo fedor.