Perdi minha voz
E foi de uma vez.
Não falo mais grego
E nem português.

Calou-me esse mundo
De dores e peso.
Não mais posso crer
Que escape eu ileso.

Roubado não fui,
Mas sim enganado,
Pois sem violência
Da voz fui privado.

É o peso do mundo
Que cai sobre os ombros,
Que força a viver
No meio de escombros.

Barulho ainda existe:
O surdo tem sorte.
São vãs profecias,
Prenúncios de morte.

Forçado a viver
Vagando com gestos,
Agora só tenho
Um monte de restos.

O corpo padece,
A língua enferruja;
Difícil ser são
Em vida tão suja.

Adeus eu queria
Dizer a este mundo
E achar lá no abismo
A voz bem no fundo.