Do tempo me roubo, o presente me escapa.
Olhando o passado, ainda ontem parece
Que aos céus eu lançava pedidos e preces;
Perdi meu relógio e também o meu mapa.

Sempre outro, ainda o mesmo, tão longe, tão perto:
Será que à criança que fui ainda tenho
Um débito, multas e juros ferrenhos
Que após tantos anos estão em aberto?

Eu devo, não nego, podendo — até pago.
Melhor pagamento seria mensagem
Que alívio traria e daria coragem
Ao jovem perdido de sonhos tão vagos.

Se hodie mihi, cras tibi, então, louco,
Me vejo oprimido entre o fim e o início:
De um lado da morte não tenho armistício,
De outro as memórias aumentam o sufoco.