Em Russo, o pronome relativo себя sempre se refere ao sujeito. Enquanto em português dizemos:

Eu me vejo. Ele se vê. Nós nos vemos.

Em russo se diz:

Я вижу себя. Он видит себя. Мы видим себя.

Em português, o pronome relativo muda conforme a pessoa e o número, se bem que na 3ª do singular e do plural usamos o mesmo pronome (já era assim em latim):

Ele se vê. Eles se veem.

Em russo, o pronome de 3ª pessoa (cujo dativo é себе — não coincidência quase igual ao latim sibi) aparentemente se espalhou para as outras pessoas. Se ele se vê e elas se veem, por que eu não se vejo?

Quando eu era pequeno, lembro que uma vez me corrigiram. Eu disse que “eu se machuquei” e alguém me corrigiu. A tendência está ali.

Outro dia percebi que, no meu português familiar e informal existe uma distinção interessante. Considere as duas frases:

Cuidado, vai se machucar.

Cuidado, vai te machucar.

Nos dois casos, eu estaria usando o tu ao dizer as frases — mas aquele tu diferente do padrão, em que eu digo tu vai e não tu vais. Percebi que o pronome reflexivo que eu uso com o tu é o se, e não o te. A primeira frase, portanto, significa “tome cuidado, pois você vai acabar se machucando”, enquanto a segunda significa “tome cuidado, pois isso (um objeto qualquer) vai acabar machucando você”.

A distinção de fato está lá. O se seria o pronome que se refere ao sujeito, o te não. Mas é uma distinção fraca e que não existe nas outras pessoas e números.