Os olhos do lêmure assustam um pouco;
Parece que ouviu uma notícia bombástica.
Preciso tomar uma ação um pouco drástica,
Preciso sair logo desse sufoco.

Não quero que pensem que tenho vergonha
(Deus sabe que eu faço de tudo pelado),
Agora porém eu me encontro ferrado:
Me sinto, eu confesso, um gigante pamonha.

Já faz dez minutos que eu sento no trono.
Eu juro que tento fazer o que devo,
Desviar meu olhar eu, porém, não me atrevo.
É como se o corpo tivesse outro dono.

E mostra interesse esse bicho canalha!
Será que não tem algo mais a fazer?
Olhar-me indefeso lhe dá algum prazer?
Quem dera pudesse o jogar na fornalha!

Aquele panfleto do hotel não mentia:
“Hospede-se em meio à real natureza.”
Promessa cumprida; porém a beleza
Do belo cenário virou agonia.

À porta já batem, exigem motivo.
Não sabem da dor que padeço sentado.
Não veem os bugalhos do imigo malvado.
Não sabem que é ter o intestino cativo.

Mas eis que os olhinhos o bicho desvia,
No mesmo momento em que, atônito, vejo
Que para este ato não há mais ensejo:
O lêmur, sem alma, estragou o meu dia.