Eu sei como faz
Pra entrar pela porta
Sem nunca bater.
Ela é de madeira,
Bem forte, bem alta;
Porém não resiste
A golpes precisos
De língua afiada.

A porta arrebenta,
Explode em mil cacos.
Os dentes se alegram,
A boca escancara;
Escorre a saliva,
Que o rango antecipa
Sem nem conhecer
Da carne o sabor.

Os gritos ecoam
Na luz amarela.
Os poucos que correm
O fazem com medo
Da boca que vem.
Os outros resignam-se,
Roubados de vida,
Sem mais a perder.