Quando ia na sexta série, eu gostava de biologia. Não que eu não goste hoje em dia, mas na época eu achava o máximo. Eu simplesmente admirava o mundo vivo. Na escola, eles emprestavam um livro didático, que precisava ser devolvido no fim do ano. Às vezes precisávamos comprar — e era sempre aquele drama na escola —, mas em geral era emprestado pelo governo. Mas era um empréstimo meio triste, porque no fim do ano eu não ficaria mais com o livro. E eu gostava daquele livro de biologia da sexta série, não queria devolvê-lo.

Até que um dia eu estava no carro, mexendo aqui e lá, e abaixei o quebra-sol do carro, no lado do motorista. Preso no elástico, cinco reais. Dinheiro dos pais. Que fique ali.

Até que outro dia, semanas depois, eu estava no carro e fui conferir. Os cinco reais ainda estavam lá! Claramente alguém havia colocado o dinheiro ali e esquecido dele! Peguei os cinco reais para mim e não tive muita dúvida do que fazer. Achado não é roubado… fiz uma fotocópia do livro de biologia.

Algum tempo depois, eu estava em casa lendo o livro de biologia. Vi que a minha mãe veio se aproximando e escondi o livro — afinal de contas, ele era a prova de um crime. Como bandido inexperiente, ela percebeu que eu estava escondendo alguma coisa.

— O que tá escondendo de mim!?

— Não é nada, mãe!

Mas ela não desistiu e ficou me pressionando. Eu coloquei o livro atrás de mim e fui recuando, até dar com a porta da casa. Eu estava encurralado.

— O que tem aí!?

Imagine o tipo de preocupação que uma mãe pode ter numa situação assim. Cigarro? Álcool? Rojão?

Eu estava com muita vergonha na época e não percebi a reação dela quando entreguei o livro e confessei o crime todo.

— Não faz mais isso, viu?

Ela deve ter saído rindo entre os dentes.