Quando eu ia na sexta série, a professora de educação física pedia que, nas aulas dela, usássemos calções ou calças leves, flexíveis — que permitissem atividade física. Razoável. No início do ano, eu usava calção e estava tudo bem, mas, conforme o tempo foi ficando mais frio, eu passei a usar calças.

Eu não lembro quantos pares eu tinha (só pode que era mais de um, certo!?), mas o fato é que eu só tinha calças jeans. A professora veio falar comigo e explicou que, nos dias que havia educação física, eu precisava usar outro tipo, mais propício ao esporte.

Eu não levei muito a sério e não falei nada em casa. Como se fosse a falta de vestuário apropriado o motivo para eu não me dar bem nos esportes…

Um tempo depois a professora me chamou de lado e me deu uma bronca por eu ter esquecido, novamente, de usar as calças corretas.

— Professora, não é por mal, é que eu não tenho.

— Se importaria se conseguíssimos providenciar um par para dar para você?

Como eu era ingênuo. Meu raciocínio não foi “vige, ela acha que a minha família não tem condições de comprar mais um par de calças, melhor explicar direito para não gerar nenhuma confusão.” Não. O que eu pensei foi “oba, calças grátis.”

Ainda bem que ela esqueceu da história (ou não conseguiu as benditas calças atléticas), e nunca mais falamos sobre o assunto. A história ficou anos na minha cabeça marinando e só depois a ficha caiu.