Preso nas garras do tempo eu cantei sem ter glória.
Triste no tempo dos novos fiquei sem memória.
Roubo o passado dos outros e dou como esmola.
Piso nas casas alheias com a alma na sola.

Vago o caminho dos loucos, o rumo sem rumo.
Sigo os mendigos, sem teto, sem classe, sem prumo.
Perto das pedras me deito, olho o céu já sem cor.
Sinto tão pouco, nem fome, nem sede, nem dor.

Deito-me preso na esmola do tempo passado.
Pouco me importa o futuro, este livro acabado.
Passos arrasto, descalços os pés, noite e dia.
Resta-me agora uma dose fatal de apatia.