Quando eu tinha uns nove anos, eu costumava subir no muro lá de casa e ficar indo de um lado para o outro. Era divertido, porque tinha uma grade de ferro sobre o muro de concreto, então eu ia me agarrando. Um dia até fiz o percurso inteiro, de uma ponta à outra do muro (tinha algo que chamávamos de “barraco” que impedia um círculo completo); não foi muito fácil porque tinha uma parte do muro que ficava bem junto de umas árvores, de modo que eu tive que lutar com uns galhos.

Um dia eu estava no muro, bem na esquina da casa, quando vieram duas meninas voltando da padaria — lembro bem das sacolinhas com pão. Deviam ter, sei lá, uns 15 anos. Uma estava falando para a outra do namorado e largou essa:

— Ele gosta é do meu cu!

Na hora eu fiquei confuso, mas a noção foi vagarosamente cristalizando na minha mente ao longo dos anos seguintes.