A palavra aliás é um empréstimo erudito do latim alias. Em latim, a palavra foi formada a partir de alius “outro”; ela pode ser o feminino plural ou um antigo genitivo singular, como é o famoso caso de pater familias. Alius é cognato de ἄλλος e de else. De qualquer modo, alias é proparoxítona, e um aportuguesamento dela seria naturalmente álias, não aliás. Em espanhol o empréstimo também foi erudito (imagino), mas o acento ficou na primeira vogal: alias.

Por que em português ela é oxítona? Não me parece razoável que ela tenha, por via erudita, entrado na língua já com acento na última.

O Houaiss não diz nada a respeito na seção de etimologia. Já o Dicionário Etimológico Resumido [1] de Antenor Nascentes, de 1966, diz: “Deslocou o acento. Em espanhol conservou.” O Diccionario da Lingua Portugueza [2] de Antônio Morais da Silva, de 1831, afirma (p. 87) que “Alguns dizem álias.” O Novo Diccionário da Lingua Portugueza [3] de Francisco Solano Constâncio, de 1836, também registra a pronúncia alternativa, porém a denuncia (p. 52): “Outros dizem erradamente álias.”

Como a mudança aconteceu faz tempo, é imprudente especular a partir da pronúncia e do uso atual. Sendo imprudente: na língua falada, é comum que aliás seja pronunciada de forma bastante enfática, com um acento secundário forte na primeira sílaba. É possível que inicialmente o acento secundário forte estava na última sílaba, que acabou assumindo o papel de tônica na palavra.

Também não deve ter ajudado o fato de que o som de álias lembra (e, imagino, lembrava) o som de alho e de alhas (“palhas alhas” são as folhas secas do alho, descobri). Em espanhol, alho é ajo.

  • [1] https://archive.org/details/DICIONARIOETIMOLOGICORESUMIDODALINGUAPORTUGUESAANTENORNASCENTES
  • [2] https://archive.org/details/bub_gb_OkZDAAAAYAAJ
  • [3] https://books.google.com.br/books?id=HM9TAAAAcAAJ