2016-06-09

Em Konya há muitas mesquitas. Talvez haja lá não mais mesquitas do que igrejas em cidades europeias, mas parece de fator haver mais. Pode ser também que uma igreja a mais ou a menos não faz diferença, mas uma mesquita nunca passa despercebida. Certamente os minaretes ajudam na rápida identificação da mesquita por entre casas e prédios.

Sempre soube que os muçulmanos devem rezar algumas vezes por dia, em horários específicos e voltando-se para Meca. Mas acho que não sabia que havia uma chamada à oração. Colocam uma série de alto-falantes no alto dos minaretes e de lá, na hora certa, uma voz masculina e cantante convoca os fiéis. Algumas mesquitas possuem vários minaretes e muitos alto-falantes; o som pode ser bem alto.

A cantoria em si é algo bastante exótico. Consigo perceber que existe uma beleza nela, mas não a entendo de fato. É como a ópera: quem não conhece ou não gosta acha horrível aquele berreiro todo. Também eu achei bastante irritante aquele homem cantando numa língua estranha e se esforçando para atingir notas acutíssimas. As circunstâncias eram ainda mais agravantes quando nas proximidades havia não uma, mas duas ou três mesquitas. Cada mesquita tinha seu estilo e eles não mesclavam lá muito bem. Às vezes todas as mesquitas silenciavam juntas e sobrevinha um certo alívio… apenas para começarem de novo — a chamada dura alguns minutos.

Disseram-nos que Konya é uma cidade bastante conservadora, religiosamente falando. Esperava eu que, no momento da chamada à oração, os maometanos puxariam um tapete do bolso e rezariam ali mesmo onde estavam, ou então que se retirariam a algum recinto mais recluso para orarem em paz. Quem sabe o comércio fecharia por alguns instantes. Estava enganado: em nenhum momento da semana que passei em Konya vi qualquer mobilização, por mínima que fosse, em resposta ao chamado. Talvez os mais dedicados já sabem o horário das orações (aplicativo para Android e iPhone não deve faltar) e, quando o chamado acontece, já estão prontos no cantinho deles.

No Brasil, o som dos sinos das igrejas não é nem de longe equivalente. Os sinos são, em comparação, acanhados e breves. São até quase úteis. Mas existe no Brasil um som público, alto, irritante: aquele dos carros que passam vendendo coisas. Passa o carro da fruta, o do milho, o do ovo, o do sorvete cremoso e até o do galeto assado. O do gás também, apesar de que esse sai espalhando música. Agora quando esses carros passam incomodando me lembro de Konya.