Quando eu era pequeno, acreditava em tudo que os adultos diziam. Por mais absurdo que fosse, eu acreditava.

— Quando o terneiro nasce, primeiro sai uma perna, depois outra, e assim por diante.

Minha avó falou certinho, mas eu entendi errado e acreditei. Eu entendi que o bezerrinho nascia sem pernas, e depois uma a uma as pernas iam saindo do corpo dele. Eu achei aquilo muito estranho, mas, se a avó falou, deve ser verdade.

Anos mais tarde, numa aula de PPT na quinta série, a professora falou assim:

— Descobriram que a terra não é redonda.

Claro, pensei, ela é achatada nos polos. Eu adorava geografia.

— Ela tem um formato mais ou menos assim.

Ela então desenhou algo absurdo no quadro-negro, do tipo:

A terra não é redonda.

Eu meio que acreditei, mas achei a novidade tão incoerente que quis saber mais.

— Como a professora ficou sabendo?

— Li numa revista.

— A professora pode trazer a revista para a gente ver?

Ela nunca trouxe a revista.