A geladeira nova é muito esperta.
Quando alguém deixa a porta aberta um tempo,
Mais ou menos uns vinte segundinhos,
Ela emite um sinal sonoro assim:
Bim, bom, bum, (pausa um pouco), bim, bom, bum.

A vontade que eu tenho é de pegar
Um martelo e bater na geladeira,
Quebrar peça por peça até que reste
Nada além de um pilha de sujeira.
Depois quero atear fogo e ver queimar.

O barulho incomoda a mim somente;
Então o dia todo, todo dia,
É bim, bom, bum o tempo quase inteiro.
O problema, está claro, é só comigo.
Então agora e sempre é bim, bom, bum.

O que dói é pensar que alguém achou
Que era uma boa ideia esse tal bipe.
Quero encontrar o filho de uma puta
E costurar um fone nas orelhas:
Que ouça o bim, bom, bum até morrer.

Uma vez em dois meses esse bipe
Mostrou que tem alguma utilidade:
Alguém a porta não fechou direito.
Das noventa horas de tortura, então,
Foi útil por uns dois ou três segundos.

Jogar pela janela e ver cair;
Com motosserra arrebentar com tudo;
Encher de pedra e arremessar no mar;
Metralhar com um fuzil AR-15;
É tudo que eu desejo e quero em vida.