A inclusão digital não tem limites.
A velhinha usa Uber já faz meses,
Mas um conceito ignora por completo:
A tarifa dinâmica.

A corrida ela faz como fez sempre
(De muito longe vem ao Passa Vinte)
E ao motorista entrega o mesmo tanto:
Setenta reais em notas.

O motorista a fita por segundos,
E informa com paciência que o dinheiro
Era pouco; faltava ainda um tanto:
Quarenta reais e pouco.

A velha irou-se e reclamou com gosto.
“O trecho é sempre o mesmo, motorista,
E não pago vintém nenhum a mais.
Você está me roubando.”

“O celular o preço da corrida
Antecipadamente mostra sempre.
Pague ou de graça a levo a outro lugar:
A uma delegacia.”

A dondoca pragueja e na sua bolsa
O dinheiro procura que lhe extorquem.
É injusto o mal estar que lhe provocam:
“Não vai ficar assim.”

Pela janela, exausto, o motorista
Olha e aguarda a perua, até que ela
Lhe dá o dinheiro e sai sem dizer nada.
“Que o diabo te carregue.”

Desliga o aplicativo e parte logo,
Mas logo horrível sensação lhe atinge.
Um monstruosíssimo fedor de bosta.
“De onde vem este cheiro?”

Ele busca o culpado sem demora:
Mas nada vê na rua de suspeito.
O cheiro penetrante é uma tormenta.
“Mas que merda! Eu mereço.”

As janelas fechadas o sufocam.
Olha no desespero para trás
E pasmo enxerga o que no banco senta:
Um cocô bem fresquinho.