Voa a locomotiva pelos trilhos,
Vai abrindo caminho no deserto.
Os vagões não lhe pesam, mesmo cheios;
Sobra energia, sobra resistência.

Somente ela conhece o itinerário,
Que soberana ela decide só.
Inquestionavelmente destinada,
Impreterivelmente dirigida.

Cortam secos, agudos sons o ar —
Reclamam velhos trilhos sempre ociosos;
Mas a locomotiva não os ouve:
Autodeterminada avança brava.

Os vagões iludidos se reúnem
E em assembleia deliberam tudo:
Na ilusão eles vivem de que importa
O que pensam e o que querem e o que decidem.

Voa a locomotiva no deserto,
Voa suprema, incrível, inconteste.
A seguem os sábios, temem-na os simplórios;
Indiferente à frente ela desbrava.