O Cícero era um cara um pouco mais velho. Ele trabalhava no Controle de Qualidade da AGC. Ele era um cara legal, mas vacilou.

Ele entrou para a CIPA, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Não que ele estivesse muito preocupado com os acidentes. Acho que era um ambiente bastante seguro, não tinha muito problema. Riscos havia com certeza: se alguém quisesse se aleijar ou até se matar, com certeza encontraria um jeito. Mas era tudo organizado, ninguém se machucava. A CIPA existia porque era obrigatório que existisse.

E o Cícero entrou para a CIPA. E, quando entrou, ficou sabendo que não podia mais ser demitido — pelo menos não enquanto ocupasse a sua posição (sei lá qual era) na dita comissão. Ele concluiu que poderia ficar na CIPA por um tempão, e com emprego garantido.

O Cícero começou a fazer merda. Chegava atrasado, saía cedo. Trabalhava pouco, conversava muito. Tudo estava, afinal, garantido.

Mas ele esqueceu que precisava frequentar as reuniões da CIPA. A ausência dele permitia que os outros o tirassem da comissão. O Cícero, que não fazia praticamente nada na empresa, deixou também de fazer a única coisa que precisava: ir na reunião mensal da CIPA.

Foi demitido.