Fui para o soco duas vezes até hoje.

A primeira vez foi em Biguaçu, quando eu tinha uns 9 anos. Tinha o Binho, filho da vizinha cuja casa alagou uma vez, que tinha um primo, o Jêison, que morreu atropelado por um ônibus. O nome do Binho devia ser Fábio, mas eu só fiquei sabendo que “Fábio” virava “Binho” mais tarde. Soltávamos pipa junto. Basicamente foram ele, o Cristiano e o Gérson que me ensinaram a fazer e soltar pipa.

Um dia eu e o Binho estávamos naquele terreno baldio que ficava no outro lado da rua em frente à nossa casa. Começamos a discutir por algum motivo relacionado a pipa e no fim eu me senti injustiçado. Fiquei muito brabo e resolvi dar porrada. Mas eu era muito inexperiente nas artes marciais e mais apanhei do que bati. A violência foi leve de qualquer modo. Lembro bem do sentimento de ter perdido a briga.

A segunda vez foi em Jaraguá do Sul, quando eu tinha 15 anos. Tinha um colega… Rafael? Deve ser Rafael. Quietão. Olhos escondidos. Ele era um cara mais baixo, porém muito mais encorpado que eu e que era extremamente dedicado ao Caratê ou sei lá. Andava sempre com outro cara, alemão, que devia se chamar Édson. O Rafael tinha um apelido: Tata. Ele não gostava do apelido. Não era, afinal, uma alcunha muito máscula. Mas também não saía arranjando briga com quem o chamasse de Tata.

Um dia, no recreio, tínhamos feito uma pelota de papel amassado, daquelas com fita adesiva por fora. A fita adesiva dá uma aerodinâmica muito superior: a velocidade no impacto é maior e é mais fácil mirar o alvo. Eu entre na sala de aula, e vi que só tinha o Tata lá, sentado bem no fundo da sala. Havia três fileiras na sala, cada uma com duas carteiras — sentávamos aos pares. Ele estava na fileira da esquerda, sa carteira da direita.

Eu olhei para ele, gritei “Tata!” e atirei a pelota. Ela, como que teleguiada, atingiou em cheio a cara do Tata. Ele ficou olhando para mim, enfurecido, por coisa de um ou dois segundos, e partiu para cima de mim. Com a mão direita desferiu um soco no lado esquerdo do meu rosto, e eu meio que caí de costas em direção ao quadro-negro. Lembro da sensação de pânico. Não tentei reagir. Eu tinha plena consciência de que eu não conseguiria bater e de que conseguiria apanhar bastante.

Ficou por isso mesmo. Meu rosto ficou um pouco inchado por causa do soco, mas ninguém percebeu em casa.